Comemora-se hoje o dia em que o regime repressivo foi derrubado. Faço parte dos que viveram esse dia, e recordo-me de ao chegar a casa, vindo da escola, a minha mãe me receber com invulgar satisfação, só pelo facto de eu chegar a casa, a minha avó num pranto, porque Lisboa tinha sido “tomada”, e o meu Pai com uma euforia contida, que transparecia optimismo. E eu, claro, sem perceber patavina do que se passava, perguntei à minha avó: Lisboa, tomada por quem? Quem é que quer aquilo? Os Espanhóis???
Hoje temos de novo Lisboa tomada, uma ocupação subtil, fruto da irresponsabilidade daqueles que ao longo destes 37 anos temos escolhido para nos liderar. Cada um ao seu jeito, cada um ao seu tempo, nenhum foi suficientemente visionário para actuar nos alicerces da nossa sociedade, e promover desde aí a mudança necessária para a construção de um futuro sólido. Vivemos sempre na mira da caça ao voto, com implementação de medidas ténues para as nossas necessidades, populistas e cobráveis a num horizonte de quatro anos. Comemoramos 37 anos de liberdade, 37 anos de avanços e recuos ao ritmo de cada quatro anos, ou menos, em que a evolução que vivemos vamos pagá-la caro com mais uma entrega nas mãos do FMI, cujas garras estão mais afiadas do que nunca. Comemoramos 37 anos de estagnação da evolução que poderíamos ter tido, com um sábio aproveitamento das oportunidades que nos foram sendo criadas, mas que ficaram apenas à mercê de alguns. Deixando outros entregues à mentira, nova forma de repressão.
Será que enquanto povo estávamos de facto preparados para receber essa conquista de liberdade? A euforia da liberdade, conduziu-nos ao desprezo da verdade e sempre houve quem não tivesse relutância em se aproveitar disso, estagnando também alguns sectores fundamentais ao desenvolvimento, como a educação, a saúde, a justiça, deixando fachadas de sucesso, e corrompendo os alicerces de um funcionamento saudável e eficaz. O resultado está à vista.
Temos à porta um novo caciquismo. E quem pensa diferente, ou não pactua com este regime sujeita-se a ser publicamente humilhado, acusado de preconceito e apelidado de pobre. Por enquanto… apenas isto. No futuro não sei.
Como diz o poeta: Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí…
Vou iniciar hoje uma revolução no meu blogue. Devolvê-lo às suas intenções originais. Um espaço de reflexão, mais consonante com o seu nome: “Cores da manhã”. Vou abolir a política. Esta está a desvirtuar este espaço! Com desvirtua também a consciência de algumas pessoas que considero inteligentes.
Está pois a ler a minha ultima reflexão política publicada neste blogue. Encerro aqui um ciclo. Abro assim um novo. Lá para a frente, os leitores deste blogue (se é que ainda resta algum…) me dirão o que pensam. Um bom dia da Liberdade para todos.